Aprenda a comer bem para uma melhor qualidade de vida

A alimentação saudável é uma forma racional de comer que assegura variedade, equilíbrio e quantidade justa de alimentos escolhidos pela sua qualidade nutricional e higiénica, submetidos a benéficas manipulações culinárias.
Afirma-se que os portugueses e brasileiros comem demasiado, é um facto, cometem exageros repetidos, aqueles que o podem fazer e que desconhecem como todos os excessos são nocivos à sua própria qualidade-de-vida. Muitos comem como deve ser. Bastantes outros não se alimentam suficientemente. Outros fazem-no à base de produtos de tão má qualidade, e com tal desequilíbrio, que se nutrem muito deficientemente apesar de ingerirem volumes suficientes ou excessivos de comida e de gastarem os olhos da cara.

Esta heterogeneidade de comportamentos alimentares traduz-se de forma singular nos nossos indicadores sanitários. Estes revelam claramente que subsistem manchas de subnutrição, a par de manchas de nutrição excessiva e desequilibrada, e de situações intermédias. De facto, mantemos taxas algo elevadas de peso baixo de recém-nascidos, na-domortalidade, prematuridade infantil, mortalidade entre 1 e 4 anos, morbilidade infecciosa na infância e juventude, baixa esperança de vida e elevado insucesso escolar. Simultaneamente é preocupante a progressão anual da morbilidade e da mortalidade a partir dos 40 anos, por doenças metabólicas e degenerativas, das quais se salienta obesidade, diabetes da maturidade, doença cardiovascular isquémica — enfartes de coração, angina de peito, morte súbita, etc. — e cancros mamários e do aparelho digestivo, tudo afecções que começaram há decénios a ensombrar o panorama sanitário dos países ricos e nos quais constituem hoje uma trágica endemia. E preocupante o crescimento da obesidade no geral da população e da obesidade mórbida infanto-juvenil.

Diz-se que esses países vivem a 2ª era da saúde pública, a que cuida das doenças não infecciosas que incidem em adultos socialmente instalados. Nós vivemos na 2ª e na lª ou seja, também naquela que se preocupa com problemas infantis, juvenis e maternos e com doenças infecciosas transmissíveis.

Acresce que em Portugal, talvez por motivos culturais, a generalidade da população abusa de dois tóxicos alimentares: sal e álcool. Isto tem o seu preço: estamos entre os campeões mundiais quanto à prevalência de hipertensão arterial, acidentes vasculares cerebrais isquémicos e cirrose hepática e situamo-nos entre os piores classificados quanto a alcoolismo e suas complicações patológicas e sociais.
A verdade é que a maioria dos portugueses tal como o geral das populações de países ricos e como boa parte das populações de países em desenvolvimento, come mal, com prejuízo para o seu qualidade-de-vida e com grave perturbação do estado de saúde do país. Tanto em Portugal, como nesses outros países falta uma política alimentar norteada pelos imperativos da saúde. A qualidade nutricional do que se come preocupa o legislador. Daí a multiplicação de pseudo-produtos alimentares. Daí o desinteresse pela educação alimentar de âmbito nacional atenta às mudanças do estilo de vida e da alimentação praticada.
Com a elevação do nível de vida, nos países com economia de mercado, assiste-se à perda de valores culturais próprios, à adopção de padrões de consumo não orientados para o qualidade-de-vida e à perfilhação de modas exóticas de comer. A força de venda de novos produtos, a pululação de folhetos e livros de estranhas receitas culinárias que servem aqueles produtos e a folia pela compra de utensilagem doméstica e industrial que serve essas maneiras de cozinhar, juntamente com a necessidade de tomar refeições fora de casa, aceleram e aprofundam a adopção de novas formas de comer.
No entanto, as razões de um mau comer nas sociedades de consumo são mais profundas. Sem dúvida que o apelo dos novos alimentos e das novas formas de organizar refeições e merendas atinge um pouco toda a população. Mas alguns sectores, sobretudo nos meios urbanos, mostram-se particularmente vulneráveis, para o que contribui a desorganização da vida familiar com impossibilidade de comer em casa, os horários de trabalho desencontrados, a desconexão urbana com a satelitização de dormitórios, os altos custos das refeições prontas, a má comida das cantinas e restaurantes, e a pobreza nutricional e gastronómica do «pronto a comer».
A convivência da comensalidade é substituída pelo acto solitário de deglutir para matar a fome. A sociedade de consumo ainda não criou a sua cultura e o cidadão vive momentos trágicos de consumidor desculturado, incapaz de escolher, e permissivo a apelos de venda inadequados para o seu qualidade-de-vida.
Tudo somado, no decurso dos anos 60 e 70, a tendência dominante foi para abandonar a comida dos tempos antigos, «da pobreza» — pão, produtos cerealíferos, leguminosas, sardinhas, sopa de hortaliças, ensopados, açordas, etc. — e para adoptar uma comida de prestígio — carnes, cerveja, bebidas destiladas, refrigerantes, pastelaria, batatas fritas, margarinas, óleos para fritar, pizza, pré-embalados semiprontos, etc. O esbanjamento com produtos de marca que «dão prestígio» afecta particularmente os estratos médios e pobres das populações urbanas e suburbanas, para os quais, como veremos, se descreve um modelo de comportamento alimentar, o «padrão alimentar urbano pobre», o qual já começa a afectar, infelizmente, populações rurais até há alguns anos indemnes.
Com estas mudanças, os consumos à escala nacional, naquelas duas décadas, modificaram-se para pior: menos amido e mais sacarose, menos complantix e mais gorduras, mais gorduras saturadas e degradadas pelo calor, mais proteínas animais e menos vegetais, menos vitaminas e minerais, mais álcool; e, mercê do uso abundante de produtos alimentares industrializados, muito mais moléculas estranhas ao organismo, perturbadoras do metabolismo, alergizantes, tóxicas e cancerígenas.
Os portugueses, de modo mais preocupante do que outros povos mediterrânicos, nomeadamente italianos, gregos e turcos, estão a desprezar aceleradamente a sua cultura alimentar e gastronómica e a adoptar gostos atípicos. De facto, trocam um padrão alimentar saudável por um padrão desequilibrado, desajustado em relação às exigências da saúde. É necessário e urgente reencontrar o bom dessa cultura perdida e isso não será possível sem apelar ao conhecimento científico actual. Por outras palavras, o reencontro da alimentação saudável tem que apelar ao racional. Só nesse sentido é que as propostas alimentares e nutricionais sadias se enquadram na chamada «alimentação racional».
Apesar da situação nutricional portuguesa, no seu conjunto, estar longe de ser boa, não piorou nos últimos dois decénios. Os indicadores de consumo revelam até interessantes tendências de melhoria, a premiar esforços avulsos de educação nutricional e de intervenção alimentar realizadas, sem grandes meios mas com muito empenho, por diversas instituições e muitas pessoas interessadas. Alguns inquéritos revelam que a maioria dos portugueses, jovens e adultos, sabe que a alimentação interfere na saúde e está disposta a mudar a sua maneira de comer se receber ensinamentos de fontes credíveis. A sociedade está madura para responder a um programa de educação nutricional e para acolher as vantagens de uma coerente política alimentar nacional.
Este post  ambiciona ser um instrumento para todos aqueles que, sensibilizados, desejem adoptar uma alimentação saudável adaptada às características da vida moderna, logicamente racional e sadia, mas também — e não menos importante – agradável, saborosa, económica e respeitadora das tradições.
O seu conteúdo deseja ser simples, correcto e cientificamente actual. Depois de introduzir o leitor numa matéria talvez árida, a dos nutrimentos, avança para a definição de equilíbrio nutricional e para o conhecimento nutricional dos alimentos, sua qualidade e suas combinações equilibradas. Percorre depois várias maneiras de comer (padrões alimentares) e suas repercussões na saúde. Identifica os erros alimentares mais nefastos para os portugueses e propõe o plano geral de uma alimentação saudável e de uma culinária simples, gastronómica e sadia. Avança depois para as exigências nutricionais específicas de algumas idades, de grávidas, aleitantes e desportistas. Termina com algumas orientações para quem tiver peso a mais ou colesterol elevado, duas situações paradigmáticas, resultado frequente de erros acumulados em consequência de um estilo de vida nocivo.
No entanto, fique desde já bem claro que os cuidados com alimentação não interessam apenas a quem tem peso a mais ou a quem sofre de alterações das gorduras do sangue. Interessa a toda a gente. Saber comer promove qualidade-de-vida.



2 Comentários to “Aprenda a comer bem para uma melhor qualidade de vida”
  1. Meire

Deixe o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.