Consequências da Diabetes

Complicações tardias da Diabetes

As complicações tardias possíveis são várias e é possível evitá-las com o cumprimento rigoroso das recomendações médicas.

Olhos

Os olhos e a visão podem ser afectados pela diabetes, o que está relacionado, sobretudo, com a hiperglicemia (aumento da glicose no sangue) e do tempo de duração da doença. Por estes motivos, é fundamental manter a glicose no sangue dentro dos valores mais próximos do normal, tratar a hipertensão arterial, se existir, e não fumar. A retinopatia (lesão da retina) é a complicação ocular mais grave, podendo evoluir para a cegueira se não for vigiada e adequadamente tratada.

O tratamento é efectuado por oftalmologistas com fotocoagulação por raios laser. As cataratas (opacificação do cristalino) são muito frequentes no doente diabético, podendo ser de aparecimento mais precoce. A catarata, além de prejudicar a visão, impede a obseivação adequada da retina e o eventual tratamento com raios laser. O glaucoma (aumento excessivo da pressão intra-ocular) também é mais frequente nos casos de diabetes. O (seu) oftalmologista mede a pressão intra-ocular nos exames de rotina a que se deve submeter com regularidade. Deve submeter-se a um controlo oftalmológico periódico, de acordo com os prazos estabelecidos pelo seu oftalmologista. Na diabetes tipo 2, deve fazer esse exame no período em que é feito o diagnóstico e depois, todos os anos ou de 2 em 2 anos, se for essa a opinião do especialista (dos olhos). Na diabetes tip0 1, deve fazer o exame quando é feito o diagnóstico e depois, cada 1 a 2 anos, a partir do 5.° ano de evolução, em termos gerais, mas sempre com a recomendação do seu médico, que pode entender que deve submeter-se a rastreios mais próximos. Prevenir é o melhor remédio.

Rins

A nefropatia é outra complicação possível resultante da hiperglicemia crónica. A perda de pequenas quantidades de albumina pelo rim (chamada microalbuminúria; entre 30 e 300 mg/24 horas) é um dos sinais mais importantes de nefropatia incipiente (em início). E possível determinar a microalbumina na urina de 24 horas. A sua presença é um sinal precoce de lesão renal e de risco cardiovascular. Como prevenir é o melhor remédio, deve procurar obter-se o melhor equilíbrio da diabetes e da hipertensão arterial e evitar fumar. As infecções urinárias devem ser tratadas, devendo evitar-se a utilização de produtos de contraste susceptíveis de agravar a função renal. Pode ser necessário fazer um regime alimentar com restrição de proteínas. Em casos avançados de insuficiência I dos rins, a diálise renal é um método muito importante, sendo o transplante renal o método de escolha.

Nervos

Os nervos do nosso corpo também podem ser afectados (são as neuropatías). A neuropatía periférica (polineuropatia simétrica distai) é a forma mais frequente. Neste caso, é predominante a forma sensitiva ou sensorial, com repercussão na sensibilidade térmica e dolorosa e também, na vibratória (pesquisada com o diapasão); algumas formas mais raras podem ter predomínio de lesão motora.
Na forma de polineuropatia simétrica distai, as alterações manifestam-se nas extremidades dos braços e das pernas (formigueiros, queimor, anestesia) e por isso se diz que a localização é em “luva” e em “peúga”. Pode haver uma perda da força muscular com atrofia dos músculos e perda da força a nível das mãos. O leitor perceberá agora a razão da existencia de possíveis lesões no pé do diabético, devidos à existência da neuropatía, da lesão vascular possível e muitas vezes, de infecções. O chamado “pé diabético” é uma situação muito grave que pode terminar em amputação. Por este motivo, prevenir é sempre o melhor remédio. Como?

Cuidados com os seus pés

Lavar diariamente os pés com água e sabão e secá-los bem, especialmente entre os dedos. Observar os pés, todos os dias, recorrendo se necessário a um espelho côncavo ou a um familiar que lhe inspeccione os pés para ver se existem feridas, bolhas ou alterações da cor da pele. Aplicar creme ou loções hidratantes recomendadas pelo seu médico.

  • Cortar as unhas a direito e não rentes
  • Nunca usar calicidas para tratar os calos.
  • Antes de calçar os sapatos inspeccione o seu interior para ver se tem areias, pregos, palmilhas dobradas ou outros objectos agressivos.
  • Nunca faça grandes caminhadas com sapatos novos. Nunca ande descalço, mesmo em casa ou na praia, e não use sapatos sem meias.
  • As meias devem ser sem costuras e sem elásticos. Mude de meias todos os dias.
  • Proteja os pés usando sapatos confortáveis, não apertados, pele macia, biqueira larga e alta, sem costuras, sem laços e sem tiras.
  • Não usar na cama botijas de água quente, nem aproximar os pés de lareiras ou aparelhos de aquecimento (aquecedores, convectores).

Consulte um podologista (é um profissional habilitado para tratar os pés) periodicamente. Retomando, outra forma de neuropatía é a que pode atingir o sistema nervoso autónomo, podendo ter repercussões no sistema cardiovascular, digestivo, urogenital e outros. 0 coração tem uma rede nervosa composta por fibras chamadas simpáticas e para-simpáticas; estas são as primeiras a ser atingidas por lesões em doentes que não se cuidem adequadamente. Uma das manifestações é a taquicardia (o coração bate mais depressa do que o habitual) de repouso, que vai diminuindo à medida que o sistema simpático vai sendo atingido. Outra manifestação possível é a hipotensão (baixa da pressão arterial) ortostática (quando o doente passa da posição de deitado para a posição de pé).

O enfarte do miocárdio, sem dor, pode ser outra das manifestações da neuropatia autonómica. Quando o sistema digestivo está afectado, o estômago pode “paralisar” e depois de uma refeição o doente pode ficar com enfartamento e até pode ter vómitos. Nestes casos, pode haver mais crises de baixa de açúcar (hipoglicemia) porque os alimentos não são absorvidos. Também podem surgir diarreias, de predomínio nocturno, que prejudicam o descanso do doente.

O sistema urogenital do doente diabético pode ser afectado, dando origem a uma “paralisia” da bexiga e/ou uma disfunção eréctil (o pénis não tem erecção), que é causa de impotência sexual. O doente pode perder a sensação de bexiga cheia e é mais longa a duração dos intervalos entre as micções. O doente com disfunção eréctil tem vontade de ter relações sexuais mas não consegue concretizá-las porque o pénis perdeu a capacidade de erecção. Outra alteração que pode existir é a ejaculação retrógrada (a ejaculação faz-se na direcção da bexiga). Outras alterações podem estar presentes como as alterações pupilares, com miose (diminuição do diâmetro da pupila do olho) em repouso e menor reacção à luz; transpiração localizada na parte superior do corpo, crises de aumento da sudação durante as refeições e perda da sensação de aviso de que vai acontecer uma hipoglicemia (baixa de glicose no sangue).

Estas são as principais formas de neuropatía relacionadas com a diabetes, mas podem aparecer lesões de um só nervo, como sejam o facial e os nervos oculares. Mais vale prevenir que remediar. Também neste caso das neuropatías, convém procurar optimizar o controlo da glicose no sangue desde o aparecimento da diabetes, se possível. Os outros tratamentos possíveis são para as dores como a gabapentina e a pregabalina e os antidepressivos tricíclicos.

Para a neuropatía autonómica, o tratamento é mais complexo

Para a hipotensão ortostática, convém limitar o seu efeito não cortando muito ao sal da comida; atenção aos medicamentos para baixar a pressão arterial, diuréticos, vaso-dilatadores. Alguns casos melhoram com o uso adequado de meias elásticas. A gastroparesia pode, também, beneficiar com a domperidona ou com a metoclopramida. A eritromicina pode dar resultado satisfatório. A diarreia pode melhorar com a loperamida, sendo necessário, por vezes, associar uma tetraciclina. A atonia da bexiga pode ser melhorada com reeducação funcional. Tratamentos invasivos, tais como a algaliação e a intervenção sobre o colo da bexiga, podem ser necessários. A disfunção eréctil pode, hoje, ser tratada com medicamentos do grupo dos inibidores das fosfodiesterases de tipo 5, que interferem no relaxamento do tecido eréctil, permitindo o afluxo de sangue aos corpos cavernosos, o que facilita a erecção. Estes medicamentos são o vardenafil, o tadalafil e o sildenafil. Outros medicamentos podem ser prescritos, como o alprostadil (injecção nos corpos cavernosos de prostaglandinas); o sistema de bomba de vácuo, que permite a chamada de sangue para os corpos cavernosos; ou a implantação cirúrgica de uma prótese peniana. Quanto à macroangiopatia, as principais manifestações são: a lesão das coronárias (coração); os acidentes vasculares cerebrais e a lesão das artérias dos membros inferiores. Neste caso, podem ser responsabilizados a hiperglicemia que se mantém durante muito tempo e o estado de resistência à insulina.

Mas há factores de risco muito importantes que devem ser objecto de muita atenção: a hipertensão arterial; o aumento das gorduras do sangue; a tendência para o estado que facilita as tromboses; o aumento da homocisteína; o hábito de Rimar, a obesidade e a vida sedentária. Mo caso da diabetes, a doença coronária pode aparecer mais cedo e atinge mais as mulheres. Os sintomas podem ser atípicos ou até ausentes por causa da lesão do sistema neivoso autónomo. 0 acidente vascular cerebral é mais frequente nos portadores da diabetes (quatro vezes mais) e a doença das artérias dos membros inferiores é 6 a 20 vezes mais frequente do que nos não-diabéticos. Também nestes casos é importante o controlo da glicose no sangue e a resistência à insulina tem de ser reduzida.

As medidas gerais mais importantes são:

  • tratar a obesidade através de uma dieta adequada e de um plano de actividade física.
  • tratar a hipertensão arterial.
  • tratar as alterações das gorduras do sangue tais como o aumento do colesterol (colesterol mau) e dos triglicerídeos; e a redução das HDL (o colesterol bom). Hoje, há medicamentos muito bons para este efeito, como sejam as estatinas; os fibra tos; o ezetimibe e os ácidos gordos ómega-3 (estes são os mais importantes).

Se a homocisteína está aumentada, pode ser tratada com ácido fólico. Não esqueça o velho conselho popular: mais vale prevenir que remediar.

As complicações reumatológicas também são muit0 importantes, pois podem afectar mais precocemente o portador da diabetes. A osteopenia (falta de cálcio nos ossos) pode aparecer no diabético tipo 1; a osteoartropatia pode complicar a evolução de uma neuropatía; a doença de Dupuytren (os dedos das mãos são afectados); a síndrome do canal cárpico; e a periartrite escapulo-humeral (dores nos ombros) podem ser mais frequentes nos portadores da diabetes.

A diabetes pode acompanhar-se de anomalias dermatológicas como a necrobiose lipóidica (lesão dérmica na face anterior das pernas); a dermopatia diabética (conjunto de máculas pigmentadas, ligeiramente atróficas, localizadas na face anterior das pernas). As infecções cutâneas são mais frequentes nos portadores da diabetes, como é o caso das micoses, em particular; da balanite nos indivíduos que não fizeram a circuncisão; da monilíase vaginal e do pé de atleta. O vitíligo aparece mais vezes na diabetes tipo lea acantose nigricante (manchas escuras localizadas na pele do pescoço e das axilas) é um marcador de resistência à insulina. Se a portadora de diabetes pretende engravidar tem de, com antecedência, dar conhecimento da sua intenção ao seu médico. A concepção e o período da gravidez têm que acontecer em clima de optimização das glicemias para evitar doenças no feto e na própria mãe. Os hospitais centrais têm consultas multidisciplinares para a grávida diabética, nas quais é acompanhada por endocrinologista, obstetra e nutricionista. Deste modo a gestação é acompanhada de perto pelos especialistas, evitando-se as possíveis complicações de uma gravidez sem estes cuidados.



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