Como se manifesta a Alzheimer

A doença manifesta-se mais frequentemente após os 65 anos de idade, embora possa iniciar-se muito mais cedo. Geralmente, as formas hereditárias conhecidas até à data, e que correspondem a cerca de 2% de todos os casos, têm idades de início antes dos 65 anos de idade; o mesmo acontece nos indivíduos afectados de trissomia 21, que invariavelmente desenvolvem doença de Alzheimer em idades jovens. A doença de Alzheimer tem formas de apresentação diferentes dependendo da área do cérebro que é primeiro atingida.

Como se manifesta a Alzheimer

Na grande maioria dos casos são as alterações de memória as primeiras a aparecer. Contudo, todos nós sabemos que as queixas de perda de memória são muito comuns e na maioria das vezes não correspondem a qualquer processo anormal. O envelhecimento por si provoca esquecimento fácil que não é patológico. Por essa razão, na maioria dos casos não são valorizadas nem pelo doente nem pela família. São geralmente atribuídas ao envelhecimento, à sobrecarga de trabalho, a algum problema emocional, tanto mais que quando são ligeiras acabam por não interferir grandemente no dia-a-dia. Mas, à medida que o tempo avança, as alterações de memória são mais graves e começam a interferir com a capacidade do doente em realizar as suas tarefas habituais do dia-a-dia e em consequência com a sua independência. Nesta altura a família já tem dificuldade em atribuir a perda de memória à idade ou a outra qualquer causa. Existem situações em
que o doente tem consciência da sua perda de memória, embora muitas vezes esconda e tente arranjar justificações para os esquecimentos; mas na maioria das situações esta crítica não existe e o doente nega a sua existência. Isto pode acontecer porque o córtex cerebral pré-frontal começa a ser afectado, ou devido a uma das características da perda de memória da doença de Alzheimer. A perda de memória dos doentes afectados de doença de Alzheimer, ao contrário do que sucede com o envelhecimento, ou com outros tipos de doenças, não melhora se nós fornecermos pistas ao doente. Por exemplo, numa casa vive uma mãe idosa com a filha que trabalha durante o dia. Se alguém telefona e deixa um recado à filha, a mãe pode esquecer-se de dar o recado, mas, se a filha perguntar se alguém telefonou, isto pode ser o suficiente para a mãe se lembrar do telefonema e do recado. Porém, se a mãe sofrer de uma doença de Alzheimer, mesmo que a filha pergunte se alguém telefonou, ou mesmo sendo mais específica e pergunte se o Sr. X telefonou a dizer quando era a reunião, para a mãe é como se nunca tivesse existido qualquer telefonema. Esta perda de memória cria muitas vezes conflitos dentro de casa e torna os doentes desconfiados.

Por um lado, tornam-se maçadores porque são repetitivos e passam o dia a fazer a mesma pergunta de cinco em cinco minutos; por outro lado, o facto de esquecerem completamente onde guardaram as coisas pode criar conflitos difíceis de gerir. Por exemplo, a filha entrega à mãe o dinheiro da sua reforma e esta guarda-o bem guardado para que os netos não o encontrem. Esquece-se de que a filha lhe deu o dinheiro e/ou onde o guardou e mesmo se o guardou. Como o dinheiro não aparece, começa a desconfiar que a filha está a mentir-lhe ou então que alguém da casa lho roubou.

A perda de memória, para além da interferência que pode ter no dia-a-dia, cria embaraço ao doente, porque não se lembra das pessoas ou dos seus nomes, porque tem dificuldade em manter uma conversa. Este embaraço faz com que o doente se isole em casa e se recuse a conviver com as outras pessoas. Por outro lado, o esquecimento em desligar o gás ou o disco eléctrico pode fazer correr riscos, ao doente e à família. Mais tarde, quando a perda de memória é mais grave, pode criar problemas muito embaraçosos para a família. Por exemplo, quando o doente começa a não reconhecer a casa como sua e pede repetidamente para ir para casa, ou mesmo sai de casa para ir procurar aquilo que acha ser a sua casa actual, geralmente a casa dos pais ou uma casa onde viveu anteriormente.

Quando não reconhece o marido ou a mulher e acha que é um intruso que ainda por cima quer dormir na mesma cama, podendo reagir de forma agressiva perante o “intruso”. Na fase terminal já quase não existem memórias; quando muito, alguns fragmentos permanecem.

Uma outra característica comum na doença de Alzheimer que pode surgir nas fases iniciais da doença é a dificuldade na linguagem, que pelas suas características é muitas vezes confundida com perda de memória. É comum a queixa por parte da família de que está muito mal da memória porque já não conhece a filha. De facto, nestas fases os doentes têm muita dificuldade em encontrar as palavras adequadas, tornando o discurso entrecortado. Se o doente quer dizer que foi ao supermercado, diz “eu fui ao … e o nome não sai. É fácil perceber que não é uma alteração da memória, porque quando se colocam várias alternativas o doente sabe escolher a que corresponde ao que quer dizer. Estas alterações vão agravando e dificultando a comunicação dos doentes com os outros, principalmente quando começa a ter também dificuldades em compreender o que lhe é dito, se as frases são longas e complexas. Se não existe uma preocupação de quem lida com o doente em compreender o que o doente quer dizer e em falar de forma calma, simples, com frases curtas e bem dirigidas, a comunicação fica muito prejudicada e é muitas vezes causa de irritabilidade e agressividade por parte do doente.

Mais tarde, a comunicação através de linguagem falada é impossível e geralmente os cuidadores aprendem a interpretar os sinais que ajudam compreender as necessidades dos doentes.

Para além destas alterações, os doentes vão perdendo inicialmente a capacidade de se orientar no tempo, começam a ter dificuldade em saber se são horas do almoço, de saber em que data estão, o que vai também complicar a vida do dia-a-dia. E frequente por exemplo uma mulher com doença de Alzheimer tomar o pequeno-almoço e começar a fazer o almoço logo, de tal forma que tem o almoço pronto às 10 horas da manhã. Mais tardiamente perdem a noção do espaço, perdem-se com facilidade em locais longe de casa e, mais tarde, nem mesmo em casa conseguem orientar-se, sendo necessário colocar letreiros com desenhos para que possam encontrar o seu quarto ou a casa de banho.

Uma queixa frequente da família, mesmo nas: fases inicias da doença, é a de que o doente mudou, está mais irritável e/ou mais apático. Mais tarde, é notado que tem dificuldade em planear ou organizar qualquer actividade e quando inicia qualquer tarefa desiste dela com facilidade.

Uma outra característica que surge, e por vezes cedo na evolução da doença, é uma incapacidade de perceber as emoções e os motivos dos outros. Esta característica da doença prejudica fortemente o seu ajustamento social, sendo mais um factor de isolamento.

Geralmente mais tarde, podem surgir as alterações psiquiátricas com alucinações, com falsas interpretações que provocam agitação e comportamentos agressivos nos doentes.

Em resumo, a doença de Alzheimer é uma doença do sistema nervoso central que se inicia na maioria das vezes após os 65 anos de idade e que é também na maioria dos casos esporádica (não-hereditária). Embora a doença possa existir anos antes de se manifestar, começa de uma forma insidiosa, na maioria das vezes por alterações de memória associadas desde cedo a alguma alteração da personalidade, evolui de forma progressiva ao longo de anos (em média a duração da doença é de 10 anos) com uma perda progressiva das faculdades mentais e da capacidade para realizar de forma independente as actividades da vida diária.

A doença pode dividir-se em três fases:

– Na fase inicial ou ligeira, o doente consegue fazer, com alguma orientação, uma vida quase independente. As dificuldades abrangem essencialmente as tarefas mais complicadas (chamadas de instrumentais), tais como sair de casa utilizando meios de transporte, cozinhar, gerir a casa, usar o dinheiro para fazer pagamentos, usar o telefone para fazer chamadas, usar electrodomésticos. Geralmente, o doente necessita de ajuda nestas tarefas, mas continua a lavar-se, vestir-se, comer, usar a casa de banho, a deslocar-se em casa e na vizinhança sem necessitar de ajuda. Nesta fase a doença pode não ser identificada pela família; como a doença evolui lentamente, as alterações vão-se instalando e a família, quase sem dar conta, vai-se adaptando quase sem dar conta à perda e aceitando estas alterações como devidas ao envelhecimento.

– Na fase moderada, já ninguém duvida de que as alterações que o doente apresenta sejam normais. O doente já não consegue fazer sem ajuda a grande maioria das tarefas diárias, incluindo as básicas, mas ainda é possível sair de casa com o doente sem que a maioria das pessoas que não contactam directamente com ele se aperceba da doença.

– Na fase grave, o doente já se perdeu a capacidade de controlar os esfíncteres e o uso de fraldas é necessário; da memória restam alguns fragmentos e o seu comportamento torna impossível ou muito difícil as saídas de casa. Finalmente, a motilidade é afectada, a mobilização do doente é cada vez mais difícil e acaba acamado.



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