Quem são os mais afectados pela gripe?
A disseminação da gripe, de acordo com as diferentes classes de idade e nas diversas comunidades, varia de epidemia para epidemia, dependendo do grau de imunidade de grupo prévia para a estirpe de vírus circulante, assim como das condições climáticas, ambientais e comportamentais. Para os subtipos H3N2 a imunidade é quase sempre limitada, por causa da elevada frequência de mutações e pelas alterações que sofrem nos seus antigénios de superfície, causando doença mais grave. Os vírus A(H1N1) e B são antigenicamente mais estáveis, menos variáveis, resultando em níveis de imunidade prévia mais elevados e assim doença mais ligeira. Durante os surtos, o padrão de ocorrência de doença caracteriza-se por elevadas taxas de ataque, isto é, elevada proporção de casos em crianças de idade escolar e baixa frequência nos adultos. As famílias com crianças são as mais atingidas por casos de gripe. Os vírus da gripe A são os mais prevalecentes e provocam surtos mais extensos e graves que os do tipo B. No entanto, em algumas épocas ou regiões os vírus B são predominantes ou até os únicos em circulação. Estes vírus habitualmente causam doença mais aparente nas crianças.
Durante as epidemias anuais cerca de 5 a 15% da população são afectadas por gripe e estima-se que a gripe seja responsável por mais de 500 000 mortes por ano em todo mundo. Em Portugal, as estimativas apontam para um número médio de 1773 óbitos, por época gripal, entre os períodos de 1990-1991 e 1997-1998.
Em populações institucionalizadas, como os lares de terceira idade, podem verificar-se taxas de ataque de gripe extraordinariamente elevadas, com a infecção a ocorrer em mais de 60% dos sujeitos expostos e onde pode verificar-se um grande número de mortes por pneumonia grave, em até mais de 30% dos casos. As estimativas do impacto da gripe relativamente à morbilidade (proporção de casos de doença), à mortalidade, e à utilização de recursos de saúde, como sejam consultas de medicina geral, recursos aos serviços de Urgência e internamentos hospitalares, são muito difíceis de obter e imprecisas. Isso deve-se ao facto de o diagnóstico assentar maioritariamente em sinais e sintomas inespecíficos e comuns a outras infecções respiratórias provocados por agentes que circulam simultaneamente com os vírus da gripe, e ainda porque muitas vezes são também inespecíficas as complicações que a gripe causa, como por exemplo a descompensação de uma doença crónica cardiopulmonar. Na maioria das epidemias, um dos mais precoces sinais do início da actividade gripal na comunidade é um aumento do número de casos de doença febril respiratória em crianças, seguido de aumento de casos de síndrome gripal (assim designados genericamente os casos de doença que partilham um conjunto de sintomas – síndrome – comuns à gripe) em adultos. O aumento nos números do absentismo escolar e laboral é habitualmente uma manifestação tardia e por isso pouco sensível para a identificação precoce das epidemias.
Os factores demográficos e clínicos associados a maiores morbilidade (proporção de doentes) e mortalidade por gripe, nomeadamente com maior risco de complicações como a pneumonia e de hospitalizações, são as idades extremas, menos de dois anos e mais de 65 anos, a existência de doenças crónicas subjacentes, principalmente cardíacas e respiratórias, associadas à baixa proporção de pessoas vacinadas contra a gripe. Noventa por cento das mortes por pneumonia e gripe ocorrem nas pessoas com mais de 65 anos.
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