Como é processado o Aleitamento Materno
As mamas são constituídas por tecido glandular, onde é produzido o leite, rodeado pelo estroma, composto por gordura (a quantidade de gordura é variável de mulher para mulher, dando às mamas diferentes tamanhos e formas) e tecido de sustentação (tecido conjuntivo e colagénio). As unidades básicas de tecido glandular são os alvéolos, que se agrupam em lóbulos (entre 8 e 20). Nos alvéolos, as células secretoras, que produzem o leite, são rodeadas por células mioepiteliais (estruturas musculares), que ao contraírem-se ejectam o leite para os duetos ou canais galactóforos que o transportam até ao mamilo.
À observação externa, na região central da mama encontra-se o mamilo (onde terminam os duetos, em pequenos orifícios) rodeado por uma zona pigmentada, diferente de mulher para mulher, chamada aréola. As glândulas de Montgomery (pequenas glândulas sebáceas), situadas na aréola, produzem um líquido oleoso que mantém os mamilos suaves e limpos.
Durante a gravidez, a mama sofre alterações morfofuncionais, sob o estímulo hormonal dos estrogénios e da progesterona, com desenvolvimento do sistema lóbulo-alvéolo e proliferação dos duetos, no sentido da preparação para a lactação. Estas alterações já estão estabelecidas no 2.° trimestre da gestação, pelo que, se o parto ocorrer prematuramente, a mãe já tem capacidade para amamentar. Durante a gravidez, os níveis séricos da prolactina, produzida pelas células lactófllas da hipófise anterior, aumentam progressivamente até ao termo. Apesar de estarem reunidas todas as condições para a produção láctea, tal não acontece durante a gravidez, porque a acção da prolactina é inibida e antagonizada a sua acção sobre a mama, pelas hormonas produzidas pela placenta, essencialmente os estrogénios e a progesterona, para além da acção do factor inibidor hipotalâmico da libertação da prolactina.
Quando o bebé nasce, após a expulsão da placenta, dá-se a descida repentina do nível das hormonas placentárias, o que faz com que deixe de haver inibição da libertação da prolactina e permite que os níveis desta hormona se elevem e assim se inicie a lactação.
O processo da lactação é complexo; depende de factores hormonais, físicos e emocionais, sendo o principal estímulo para a secreção láctea a sucção do bebé na mama.
A lactogénese é constituída por duas fases, a primeira é a secreção e a segunda a ejecção ou excreção láctea.
Quando o bebé mama, a estimulação da aréola e do mamilo produz impulsos sensoriais que estimulam o sistema nervoso central. Em resposta é produzida na hipófise anterior (neuro-hipófise), a prolactina, a qual, por sua vez, actua a nível das células secretoras dos alvéolos, levando à produção láctea. Quando o recém-nascido começa a mamar, vai estimular, por reflexo neuro-hormonal, a produção de ocitocina pela hipófise posterior, no denominado reflexo da ocitocina. Esta hormona promove a ejecção ou excreção láctea, através da contracção das células mioepiteliais, situadas à volta dos alvéolos, o que faz com que o leite produzido nos alvéolos desça através dos duetos para o mamilo. O pico sérico da prolactina ocorre cerca de 30 minutos após a mamada, o que leva a que a mama produza leite para a mamada seguinte. A prolactina é produzida em maior quantidade durante a noite, motivo pelo qual, para manter a produção de leite, é essencial que a mulher amamente durante a noite. Por outro lado, em compensação, a prolactina faz com que a mãe se sinta mais relaxada e adormeça facilmente. Pelo facto de esta hormona fazer com que a mulher se sinta mais maternal, tem sido chamada “hormona materna”. A elevação dos níveis da prolactina inibe a ovulação, o que pode ajudar a adiar uma nova gravidez.
O efeito da ocitocina é mais rápido do que o da prolactina, o que faz com que o leite que já está na mama seja excretado na mamada actual. Para que a criança obtenha a quantidade de leite suficiente, para além da sucção e da produção de leite adequadas, necessita que o reflexo da ocitocina esteja presente e leve à saída do leite. Inicialmente, o reflexo da ocitocina é induzido pela estimulação física do mamilo e da aréola; mais tarde é condicionado positiva ou negativamente por factores físicos e psicológicos da mãe (pensamentos, sentimentos e sensações). Os sentimentos agradáveis, tais como tocar e ver o bebé e sentir-se autoconfiante em relação à amamentação, podem fazer com que o leite saia facilmente. Pelo contrário a dor, o stress, a tensão, o cansaço, as preocupações e as dúvidas podem bloquear a saída do leite. Os factores negativos levam à libertação da epinefrina, que provoca uma vasoconstrição, com uma diminuição da circulação, na camada vascular perialveolar, impedindo que a ocitocina actue a nível das células mioepiteliais, levando consequentemente à retenção do leite. Para que o reflexo da ocitocina funcione adequadamente, a mãe deve estar sempre junto ao bebé desde o nascimento, pois o contacto precoce mãe/filho e o contacto pele a pele permitem interagir com ele, desenvolvendo uma relação amorosa e o vínculo, ao mesmo tempo que permite as mamadas em horário livre e estimula e prepara o corpo da mãe para o início e a manutenção do aleitamento. Quando os bebés são colocados nos berçários ou são separados da mãe, choram mais e é mais provável que os profissionais de saúde lhes dêem biberão; isso vai levar à interferência com o vínculo e com o estabelecimento da amamentação; por outro lado, as mães sentem-se menos confiantes em relação à amamentação. Para o sucesso da amamentação é importante o qualidade-de-vida físico e psíquico da mãe, que ela se sinta confortável e autoconfiante. É aconselhável que a mãe dê de mamar num ambiente calmo; se ela estiver relaxada o leite sai mais facilmente.
Os sinais de que o reflexo de ocitocina está presente e há uma adequada saída do leite são:
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A mãe pode referir sensação de pressão, formigueiro, picada nas mamas imediatamente antes ou durante a mamada;
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O leite pode pingar quando ela pensa no bebé ou o ouve chorar;
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Quando o bebé está a mamar o leite pode gotejar da outra mama;
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Se o bebé larga a mama durante a mamada, pode ver-se o leite a escorrer da mama;
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A mãe poder referir contracções uterinas por vezes acompanhadas de perda de alguns coágulos durante a mamada, decorrente da acção da ocitocina a nível uterino, em especial durante a primeira semana;
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A presença de sucções profundas e lentas, seguidas de deglutição, mostra que o leite está a passar para a boca do bebé.
A produção de leite é também controlada localmente, dentro da própria mama. No leite materno existe um factor inibidor da produção de leite, levando a que, quando o leite não é removido das mamas, o factor inibidor também não o é, que faz com que as células secretoras dos alvéolos não produzam mais leite. Se a mama é esvaziada, por sucção ou extracção, o inibidor também é removido, levando assim à produção de mais leite. O sucesso do aleitamento depende portanto do esvaziamento mamário. Este mecanismo de controlo da produção ajuda a compreender que:
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Se um bebé deixa de mamar de uma mama, esta pára de produzir leite;
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Se um bebé mama mais de uma mama, esta produz mais leite e fica maior que a outra;
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Para que a mama continue a produzir leite, o leite que ficou na mama deve ser extraído
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Se o bebé não pode mamar, o leite deve ser extraído para que a produção continue.
A eficácia da amamentação depende, para além dos reflexos maternos (prolactina, ocitocina) dos reflexos do recém-nascido, e os principais são: o reflexo da busca e preensão, de sucção e de deglutição. Sempre que qualquer coisa toca nos lábios ou bochecha do bebé, ele abre a boca, coloca a língua para baixo e vira a cabeça à procura do que lhe tocou – é o reflexo da busca e preensão. Para a mãe estimular este reflexo pode roçar suavemente o mamilo nos lábios do bebé, até) que este abra a boca, ponha a língua para baixo e procure fazer a preensão da aréola e do mamilo. Quando alguma coisa toca o palato, estimula a sucção do bebé – reflexo da sucção. Quando o mamilo entra na boca do bebé e toca o palato este começa a sugar. Este reflexo é muito intenso logo após o nascimento, pelo que é importante que a mãe dê de mamar na primeira meia hora após o parto, pois o recém-nascido está muito desperto e receptivo para este passo importante no sucesso da amamentação. O reflexo da sucção por seu lado vai promover o reflexo da prolactina e ocitocina, controlando deste modo a lactação. Pelo reflexo da deglutição, sempre que o bebé tem a boca cheia de leite, engole-o. Após a produção do colostro, a produção de leite propriamente dito ocorre entre o 3.° e o 4.° dia pós-parto, é a chamada “subida”/”descida” do leite. Associado à abundância de leite há um afluxo extra de sangue aos alvéolos, o que faz com que as mamas fiquem firmes e cheias, podendo ficar temporariamente dolorosas e ingurgitadas, mas, se houver um aumento da frequência das mamadas, poucos dias depois o desconforto é aliviado. A produção do leite vai sendo mantida pela sucção e pelo esvaziamento mamário completo e frequente. Quanto mais o bebé mama, mais leite é produzido; pelo contrário, se o recém-nascido não é colocado à mama, pode não haver um estímulo adequado para a produção de leite suficiente. Quando a mama fica cheia de leite, e este não é retirado, a produção pára.
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