Resistência aos fármacos da tuberculose

Medicação para tuberculose

Quando um doente toma um medicamento para a tuberculose de modo irregular, expondo os bacilos repetidamente a doses insuficientes para os destruir, dá oportunidade a que se seleccionem alguns bacilos resistentes a esse medicamento. Ao fim de algumas semanas todos os bacilos desse doente apresentam essa resistência. Quando um convivente desse doente é contagiado, os bacilos deste novo doente são também resistentes ao mesmo medicamento desde o início, tornando inútil o seu uso.

É assim que nasce a resistência aos fármacos da tuberculose. Com mais de meio século de uso de fármacos para a tuberculose, encontramos agora bacilos de Koch resistentes para todos os medicamentos conhecidos. É por esta razão, entre outras, que a tuberculose se trata desde o início com vários medicamentos em simultâneo (quatro, no nosso caso). E para limitar o risco de aparecimento de resistência e para assegurar a cura do doente mesmo que haja o azar de os seus bacilos serem resistentes a um dos medicamentos.

Há uma realidade ainda mais preocupante. Alguns bacilos de Koch são hoje resistentes a todos os fármacos, incluindo o mais eficaz, a Rifampicina. Diz-se que são multirresistentes. A multirresistência é um problema potencialmente explosivo porque, a disseminarem-se esses bacilos, coloca os doentes de hoje sem meios de tratamento, como acontecia há 60 anos. Compreende-se que, quando se diagnostica um caso de tuberculose multirresistente, haja grande preocupação, às vezes com grande repercussão mediática, porque é necessário impedir que alguém seja infectado. Em Portugal a frequência do aparecimento de estirpes multirresistentes nos primeiros tratamentos é ainda inferior a 2%.

O tratamento eficaz dos doentes com tuberculose multirresistente exige a investigação e a chegada ao mercado de sucessivos novos fármacos, como sucede com as outras infecções. Nos últimos anos a indústria farmacêutica tem sido incapaz de conseguir acompanhar o aparecimento das resistências, isto é, têm aparecido resistências antimicrobianas aos antibióticos a ritmo superior ao do aparecimento de novos fármacos. Este desencontro de ritmos tem vindo mesmo a aumentar.

No caso particular da tuberculose, a situação é muito mais preocupante por razões de mercado.
O desenvolvimento de um novo fármaco, desde os primeiros passos na procura de moléculas originais até à chegada ao mercado, demora vários anos. Mais de uma dezena. Nesse período a investigação incide sobre mais de mil moléculas para chegar eventualmente a um medicamento útil. Isto é, gastam-se muitos milhões de euros que terão de ser pagos por alguém. Serão pagos pelos doentes por inclusão dos custos da investigação nos preços altos dos medicamentos. As entidades com capacidade para tão grande tarefa são as multinacionais da indústria farmacêutica. Nenhum organismo público do mundo tem capacidade para tanto. As empresas farmacêuticas desenvolvem constantemente estes programas como sua actividade normal para responder com dividendos aos seus accionistas. A tuberculose atinge tanta gente que se diria  uma área de negócio de grande interesse para investir e investigar. Acontece que, na imensa maioria, os doentes com tuberculose são os pobres dos países mais pobres do mundo, gente sem capacidade para pagar os custos dos novos medicamentos que chegam ao mercado muito caros, durante os dez anos em que são protegidos por patente. E por questões deste tipo que não tem havido grandes investimentos na procura de novos medicamentos para a tuberculose. Temos os mesmos fármacos que tínhamos há décadas; não teremos maneira de responder ao problema das resistências, especialmente à multirresistência. E por isso que temos que impedir a sua disseminação.



1 Comentário to “Resistência aos fármacos da tuberculose”
  1. ana maria silveira

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